Jornal Tribuna do Nordeste
(Última entrevista do ex-governador Jackson Lago antes do segundo turno da eleição de 2010 ao jornalista Egídio Pacheco).
Jackson Lago fala tudo sobre candidatura, campanha e eleição.
O nosso entrevistado da semana é o ex-prefeito de São Luís por vários
mandatos, ex-governador, Jackson Lago (PDT), que acaba de sair de uma
disputa em que os resultados não foram satisfatórios, mas que nem por
isso deixou se abater e está muito bem disposto a continuar a luta, pela
vida e na política. Ele faz uma análise fria do pleito e de momentos e
atitudes politicamente nefastas, que de uma forma ou de outra
contribuíram para o desembocar bisonho para as oposições na eleição para
prefeito de São Luís e agora na última eleição para o governo do
Estado.
Por EGÍDIO PACHECO
TRIBUNA DO NORDESTE – Qual a leitura que o senhor faz dos resultados das últimas eleições?
Jackson Lago – Naturalmente sob a emoção é mais difícil se dar mais
concretude à análise. Mas não é difícil se perceber que a nossa
candidatura foi vítima de mais um golpe judiciário. Utilizaram o golpe
judiciário que nos afastaram do governo. Como ainda quiseram nos colocar
no meio daquelas pessoas de vida duvidosa e que não deveriam fazer
parte da vida pública brasileira. Outro aspecto é que as estruturas
dominantes do Estado, que têm acesso a essas instituições, conseguiram
que recursos contra Roseana fossem julgados três dias após ter entrado
no TSE. O meu recurso só foi julgado depois que terminou o programa
eleitoral. A parte dominante conseguiu que ficássemos sob uma
interrogação durante longo período. Os concorrentes não tiveram outro
discurso, se não pregar o voto útil, considerando que o Jackson teria os
votos anulados; ai sucedeu nos últimos dias da campanha na
transferência de votos que seriam meus para os concorrentes da oposição.
T. N. – A luta acabou?
Jackson Lago – Isso é
lamentável na vida pública maranhense, mas nós que estamos fazendo
política no Maranhão, sabemos onde estamos e a que estamos expostos.
Essa é uma etapa, um processo da luta, que não se encerrou e que não vai
se encerrar, porque enquanto a maioria da população arrasada, excluída,
sem direitos sociais e cidadania; temos que continuar a luta.
T. N. – O senhor ratifica que tem sido vítima de golpes e golpes?
Jackson Lago – Não foi a primeira vez que eles nos golpeiam
judicialmente, que o TSE nos golpeia. Já em 2002 – todos sabem, o TSE
impediu que houvesse o 2º turno, porque nós já teríamos chegado ao
governo. É uma convivência com uma realidade dura, que exige não só de
mim, mas de todos os maranhenses desejosos de uma mudança verdadeira,
uma capacidade de não se abater diante de resultados eleitorais ou
resultados eleitorais como consequência de manobras mesquinhas.
T. N. – Dr. Jackson, a deputada estadual Helena Barros Heluy, logo após
a conclamação das oposições para votar em Serra, disse que essa
motivação era motivada pelo ódio. O senhor vê assim?
Jackson
Lago – No meu entendimento é uma luta de décadas contra o Sarney. E não
há dúvida nenhuma, que o Sarney é Dilma. Eleger a Dilma é fortalecer
mais os Sarney. Então temos que entender que a décadas esse grupo
dominante aqui se perpetua em função de suas relações com o governo
federal, seja ele militar, civil, de direita ou de esquerda. A nossa
posição é anti Sarney, que é coerente com as décadas de nossa luta
política. É uma atitude de escolha e também de acreditar num candidato
que vi – eu fazia Pós-Graduação – no comício do dia 13, da Central do
Brasil, com que entusiasmo e veemência, o então presidente da UNE, José
Serra, lutava e defendia as Reformas de Base do presidente João Goulart.
T. N. – Continue.
Jackson Lago – Eu o vi tendo que ir para o exílio, como muitos outros
brasileiros. Depois eu vi a competência, a coragem e o patriotismo do
ministro do governo FHC, um governo conservador; e ele como ministro da
Saúde, enfrentou as multinacionais dos medicamentos e do fumo. Ou seja,
ele tem uma história, para não falar na sua eficiência de gestão de uma
das maiores cidades da América Latina, São Paulo e de um Estado como São
Paulo. Ele tem competência, raízes e compromissos com o interesse
nacional.
T. N. – Governador, o senhor assegura que o Serra,
hoje é o anti Sarney. Mas será que em nome do fisiologismo político e da
governabilidade, ele, uma vez eleito presidente, não vai abrir mão do
apoio do PMDB, presidente do Senado e que tem o controle de 2/3 (12)
deputados federais da bancada maranhense, além de alguns deputados do
Amapá e por cima, mais três senadores do Maranhão?
Jackson Lago
– Em princípio é natural, considerando a natureza fisiológica com que o
País tem sido conduzido, é natural que se pense assim. Por outro lado,
se olharmos o quê foi o Serra prefeito e governador de São Paulo,
observamos que ele não fez loteamento de sua administração; e é essa a
questão que está sendo colocada agora. Por várias vezes tem afirmado que
tem de dois ex-presidentes, que podem ser questionados em muitos
aspectos, mas são pessoas dignas (Itamar Franco e FHC); e que a Dilma
têm o apoio do Sarney e do Collor. Acho que isso quer dizer muita coisa.
Essa questão da formação fisiológica do governo, ele tem afirmado que
vai tratar a coisa pública, como coisa pública; não vai lotear a coisa
pública.
T. N. – O quê o senhor espera de uma possível administração Serra?
Jackson Lago – Se o Serra sai dessa eleição com a determinação de
cumprir o quê tem sido a sua vida pública, ele não vai lotear o País. E
vai ter que conviver com dignidade. Então, acho que a vitória de Serra
pode representar um novo momento no estilo das relações administrativas e
políticas desse País, que tem sido um escândalo. Você pega uma empresa
como a Petrobras e se recuar 20, 30 anos, é impensável que se colocasse a
direção da Petrobras para um determinado partido político. Não era
assim. Mas infelizmente hoje é com todas as grandes empresas nacionais.
Então, esse aparelhamento político das empresas estatais é uma prática,
que se o Serra não reagir contra essa prática e não acabar, então o País
será sem esperança e um país sem esperança ninguém sabe o que vai
acontecer.
T. N. – São Luís tem sido historicamente contra os Sarney. Como o senhor explicaria a vitória de Roseana Sarney em São Luís?
Jackson Lago – Tudo isso é um processo midiático, que juntou com a
deusificação do Lula. Lula virou um deus e ela se segurou nas barbas do
Lula. Tudo isso facilitou, mas isso tudo também foi só uma etapa do
processo. São Luís vai se reencontrar com ela própria. Foi um momento de
muita mídia, que procuraram execrar a nossa vida inteira; desde que nos
tiraram do governo começaram a nos atacar como ineficientes, como até
companheiros deles na corrupção, com mentiras, calúnias e injúrias. Mas
estamos acostumados a ver que as cidades desse País se reencontram com
muita rapidez e tenho certeza que São Luis vai se reencontrar e cair na
real num prazo muito curto.
T. N. – E como o senhor viu a revoada de prefeitos, antes seus aliados, para o lado da governadora Roseana Sarney?
Jackson Lago – Esse é o quadro político do Estado, que ficou mais de 40
anos dominado por uma família, não podemos esperar que a classe
política tenha outra natureza, mas há sempre exceções, exemplos de
dignidade, coerência, firmeza, coluna vertebral, mas infelizmente o que
legaram ao Maranhão nesses 40 anos, foi o oportunismo, que tem várias
naturezas. Então isso é um processo que só o tempo e a luta política vai
purificar.
T. N. – Nos causou estranheza, o fato do prefeito
de São Luis, João Castelo (PSDB) um dos aliados das oposições desde a
Frente de Libertação do Maranhão, somente na reta final da campanha, ter
aparecido na TV para pedir votos para o senhor. Como o senhor faz essa
leitura?
Jackson Lago – Olha. Eu acho que o prefeito João
Castelo, como cidadão, tem o direito de ter o seu comportamento político
em cada eleição. Naturalmente que para nós seria mais um apoio desejado
que deveria ter acontecido desde o começo, mas isso tudo faz parte da
realidade do quadro político do Estado. Nós sempre fomos acostumados a
contar com as nossas próprias forças e então, se houvesse realmente o
apoio forte de outras correntes, receberíamos de muito bom grado, mas
ele não havendo....Nós usamos as nossas forças limitadas, mas que são
nossas.
T. N. – Momentos antes do senhor deixar a Prefeitura de
São Luís, em conversa com o então deputado estadual Julião Amim (PDT),
lhe perguntei se o vice-prefeito Tadeu Palácio era politicamente
confiável. E ele me respondeu negativamente, dizendo: “Rapaz, não sei
por que muita gente me pergunta isso”. Na nossa opinião, o prefeito
Tadeu conseguiu uma grande façanha: Desmantelou o PDT, em São Luís, o
que teve consequências na eleição para prefeito da Capital em 2008 e no
nosso entendimento culminando com os resultados da eleição para
governador. Como o senhor viu a postura política do Tadeu Palácio?
Jackson Lago – Olha. O prefeito Tadeu Palácio, naturalmente, terminou
mostrando a sua verdadeira dimensão. Há pessoas que atingem determinados
cargos depois de muitos anos, de muita luta e muita coerência; e
outras, muitas vezes são afortunadas por algumas decisões e, então, eu
acho que cada um tem a sua dimensão e o seu tamanho; e ele talvez tenha
com essas atitudes e sobre tudo, indo para onde foi; tenha mostrado à
população de São Luís, realmente, quem ele é.
T. N. – Quase na
reta final da campanha, surgiram comentários e até mesmo na mídia de que
a sua campanha estaria terminada por falta de recursos. Faltou dinheiro
na campanha?
Jackson Lago – Uma candidatura que foi colocada
como disse no início da entrevista, de acordo com as estruturas vigentes
– uma candidatura que poderia até nem acontecer, pois votos poderiam
ser anulados, evidentemente que muitas pessoas que poderiam ter ajudado
não ajudaram. Realmente nós não temos meios pessoais. Então essa
campanha e como a nossa candidatura só foi confirmada 48 horas antes da
eleição, claro que durante a campanha tivemos grandes dificuldades de
recursos.
T. N. – E agora. Qual o futuro político de Jackson Lago no Maranhão?
Jackson Lago – Retornar para a sede do Partido com tempo mais livre,
com a experiência recolhida ao longo desses anos e começar a fortalecer o
instrumento de luta que é o nosso PDT.
Pauta: Igor Lago e Cândido Lima.
Enviado por Eri Santos Castro.
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