Muita gente ainda pensa que cientista é aquele “ser
esquisito”, enfiado no laboratório, desligado ou desinteressado do mundo
exterior. Quanto aos poetas e curiosos (como eu), é ainda muito pior: “são
beberrões e irresponsáveis". E, na realidade, não é nada disso. Somos pessoas
iguais a todo mundo: amamos, rimos, sofremos, gostamos de ir ao cinema, brincar,
ter amigos... Até gostamos de fofocar! Mas, no lugar de
querer saber quem está namorando quem, ficamos excitadíssimos ao descobrir, por
exemplo, que quando a proteína X não interage com a Y, podemos ter uma doença
muscular. Ou, quando possível, gostamos de participar das decisões políticas --
que podem afetar tanto as pesquisas,a verba destinada para acultura quanto a população com um todo. O que nos move é
uma enorme curiosidade de tentar entender os fenômenos biológicos que se passam
o tempo todo no nosso corpo, a fim de descobrir coisas novas ou combinações de palavras que provocam o surgimentode idéias. Essa tríade
“curiosidade–fenômeno–possibilidade de descoberta” se torna um berçário de
questões -- e são elas que nos motivam a pesquisar, dia após dia. São dúvidas
que, confesso a vocês, freqüentemente nos perseguem também à noite ou nos fins
de semana. Trata-se de um processo sem fim; porque, a cada resposta, abre-se um
leque de novos questionamentos. É justamente esse o fascínio da pesquisa e do ato de criação de um texto , poesia.... Não
gostariam de saber para que serve toda essa pesquisa? De compreender como os
resultados desses novos avanços científicos, tão divulgados pela mídia (Projeto
Genoma Humano, clonagem humana, terapia celular com células-tronco, seleção de
embriões) irão afetar o nosso dia-a-dia?Para que servem os bancos de cordão
umbilical? Quais são suas aplicações médicas? E suas implicações éticas? Será
que o Projeto Genoma Humano irá responder algumas perguntas que nos
atormentam,como: por que ficamos doentes, engordamos, envelhecemos, morremos,
reagimos diferentemente a medicamentos? Ou quanto os nossos genes influenciam a
nossa personalidade e comportamento? Como funcionam a nossa memória, nossos
sentimentos, nossas emoções? E o mais importante: será possível, no futuro,
manipular tudo isso? Quais são os limites éticos? O que é verdade e o que é
ficção? - Quanto esses assuntos são debatidos em sociedade? - Muito pouco,
respondo. Infelizmente estão restritos a ambientes acadêmicos... Contudo, acho
que todos deveriam participar. Essa é exatamente a proposta dessa coluna.
Traduzir em linguagem acessível diversos assuntos não tão comuns. Queremos
auxiliá-los a compreender melhor esse meio e suas respectivas incógnitas; bem
como convidá-los a opinar, criticar, interagir conosco. Mais que isso: buscamos
principalmente estimulá-los e encorajá-los a participar de decisões políticas,
que dizem respeito a todos nós: cidadãos.
8 de out. de 2007
Cientistas e poetas não são desligados, muito pelo contrário
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