28 de set. de 2007

A cidade dos livros

Desde a conquista da escrita, poucas coisas modificaram tanto quanto nossa maneira viver, como a popularização dos livros. Na sociedade de consumo a indústria colocou nas mãos de todo o cidadão da classe média, confortos comparáveis somente a que tiveram os imperadores na antiguidade. E é verdade que os automóveis, a refrigeração para os alimentos, os meios de comunicação, a avalanche de informação, os sistemas da provisão de bens ao consumidor, o projeto industrial e o conforto são vantagens notáveis para aqueles que podem ter acesso a elas. Mas poucas coisas foram tão radicalmente inovadoras como ter-se evoluído das bibliotecas medievais restritas, nas quais tinha-se que reter o conhecimento na memória (o livro não podia ser tirado de lá), a menos que fosse o bispo ou o abade, à biblioteca pessoal ou à biblioteca pública próxima e acessível.Ler não é necessariamente uma garantia de sensatez e sabedoria. Muitos confundem a capacidade de soletrar, de encadear as sílabas, de decifrar um texto, com a arte de ler. Mas a leitura verdadeira consiste em liberar a carga de emoção, a imaginação, sensibilidade, sentido, e o ritmo que há em um texto, e os textos mais ricos são certamente os textos literários. Toda a língua é inicialmente um exercício dos sons e sua origem é confundida com a música. E a escrita é uma invenção tardia, já que toda a escrita consiste em extrair sons. Por essa razão, muito antes da técnica para decifrar a escrita, éramos criaturas orais, e se enganam aqueles que pensam que a tradição oral é um estágio ultrapassado da cultura, que agora nós estamos na época da memória escrita. Estas duas tradições, a verbal e a escrita são complementares, e não podemos renunciar a nenhuma das duas, já que será necessário sempre o som das palavras para apreciar o enigmático prazer da leitura.


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