27 de nov. de 2009

Destempos

Por Edson Vidigal

Há um que de não sei o que nesta manhã de sol e vento em derredor da ilha.

Parece que é o tempo está se atrasando, não sei bem, talvez seja a
ansiedade causada por esse horário de verão.

As pessoas estao sob dois relógios, o biológico e o da hora oficial. À
parte isso, há o sol vencendo as nuvens e abençoando este amanhecer na
praia.

De repente, o tempo me parece se atrasando ou eu é que me adianto mais.

Fui ver Maria cantar ao ar livre e a canção passou tanta alegria que a
noite ficou com cara de sexta feira. E não era. Sexta feira é amanhã,
véspera de sábado.

Um dia vou conseguir um calendário que só tenha sábados para te presentear.

Sábado é estratégico. Decorre de uma sexta feira e se encomprida
amanhecendo um domingo. E os pecados de domingo, diz Vanzolini, quem
paga é segunda feira.

Agora, acordado mais cedo, recuso a areia molhada por essas ondas
preguiçosas de maré vazante.

Posso compartilhar com mais pessoas este amanhecer andando pelo
calçadão – bom dia, bom dia, bom dia, gentes boas, bom dia.

Um sorriso de bom dia saído dessa alegria espontânea de cada um de nós
calçadão afora faz parelha com o vento querendo acordar as apatias dos
tímidos e encabulados e a indiferença desse silêncio.

É o silêncio de não haver ainda quase ninguém, nem buzinas, só cães de
rua cansados de maus tratos e bêbados remanescentes a esta hora ainda
encarando a teimosia nos copos das boemias se achando as sóbrias.

Andando me fico a pensar nessas coisas que vou vendo não querendo nem
saber com que amanhecer de que dia esta manhã de agora se parece, se
esparrama e se sentencia.

Conto os navios em fila, passam de dez.

Outro dia deu para ver em toneladas as sardinhas envenenadas que as
ondas da maré enchente atiraram por toda a praia. Dá para imaginar o
futuro infernal nisso tudo aqui se as mazelas com o mar continuarem.

Já tem cientista e não os são apenas dois ou três, já se somam em
dezenas os que rascunham os horrores da vida se essas degradações
todas com a terra, com o mar e com o ar, continuarem.

Aquecida a camada polar, as águas marítimas ferverão avançando em
ondas escaldantes, inundando as praias de peixes fritos. O calor será
tão insuportável que ninguém conseguirá chegar perto, e aí já pensou?

Não será mais apenas, como na canção do Djavan, morrer de sede em
frente ao mar. Vai ser morrer de fome vendo montanhas de peixes fritos
em frente ao mar.

O sol vai estar tão quente que o calor como se fosse importado de
Mercúrio beberá toda água doce em goles de evaporação inimaginável.

Faltando água, faltará energia. Faltando energia, começará a falta
tudo que é indissociável à vida. Morrerão depois as arvores e não
haverá mais bicho para se matar e comer.

Vai ser um inferno com tudo ao que diabo tem direito se nada for feito
para as mudanças dos impactos ambientais, a começar de agora.

E para nós, brasileiros, que em todo cenário do que quer que seja
somos sempre ameaçados com uma conta restante a pagar, para nós,
brasileiros, o que vai sobrar?

Ora, vai sobrar uma conta de prejuízos que nos cálculos de hoje está
estimada em 3 trilhões e 600 bilhões de reais. É pouco?

O melhor entao, colega, é ir aproveitando este amanhecer de véspera de
sexta feira que tem cara de sábado, véspera de domingo, cujos pecados
são mandados para a conta de segunda feira.

O melhor é a gente defender a integridade do planeta e tratarmos de
nos entender civilizadamente por aqui, bom dia, bom dia, bom dia
gentes boas, bom dia!

Acesse o meu blog – http://www.edsonvidigal.com/
Enviado por Eri Santos Castro.

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