16 de nov. de 2009

Contra os Poetas

Peço licença para literalizar um pouco esta coluna e tecer breves comentários sobre o magistral ensaio de Witold Gombrovicz “Contra os poetas”.

O texto, que me chegou ás mãos através da revista “Poesia Sempre”, editada pela Biblioteca Pública Nacional (que inclui alguns poemas meus como inéditos) no exemplar que sintetiza a moderna poesia da Polônia, defende uma tese de arrepiar os cabelos: a de que quase ninguém gosta de poesia e que o mundo da poesia versificada é um mundo de mentirinha, uma falsificação.

Gombrowicz não gosta de poesias, mas acerta em algumas coisas. Quando condena, por exemplo, o excesso de metáforas, o excesso de sublimação, o excesso de condensação (o que geralmente não se percebe, por exemplo, em Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade) e de limpeza o que, segundo ele diz e eu concordo, faz os poemas parecerem produtos químicos. Ele é mais fulminante ainda quando afirma que hoje se é poeta como se é médico ou engenheiro.

Ao lamentar que os poemas façam parte nestes apenas de mundos idênticos de pessoas idênticas mais uma vez está corretíssimo. A poesia tende a se afastar cada vez mais da compreensão humana.

Já condenei, por diversas vezes, em palestras, discursos e escritos, a existência de uma poesia sem sentimento, aparentemente feita de plástico, zinco, latas velhas, para usar minhas próprias metáforas. Pois quando diz que a poesia já perdeu a muito tempo o contato com o sentimento humano, Wiltold Gombrowicz se alia à palestra que fiz na última Feira do Livro e que mereceu crítica áspera de alguns jovens poetas. Mas não tenho aqui espaço nem tempo para discorrer sobre o sufoco das imagens poéticas que se arrastam na literatura dos dias de hoje. O que tenho a dizer é que uma assombrosa filosofia emerge do ensaio “Contra os poetas”, de Gombrowicz. Os que assistiram à minha palestra lembrarão, no entanto, que, embora não tivesse eu até aquela época nenhuma notícia de Witold, acabei parafraseando o que estava no ensaio deste escritor que viveu entre os anos de 1904 a 1969:

“No instante em que os poetas perderam de vista o ser humano concreto, e fixaram os olhos na abstração da Poesia, nada mais já podia retê-los no plano inclinado que leva ao abismo do absurdo. Tudo começou a crescer por si mesmo. A metáfora, liberta de todo freio, mostrou as presas, enfureceu a tal ponto que hoje não há mais nada nos poemas, senão metáforas”.

Por JM Cunha Santos.
Enviado por Eri santos Castro.

Um comentário:

Ítalo Gustavo Leite disse...

Gombrowicz é o autor do livro PORNOGRAFIA. Não li CONTRA OS POETAS, mas entendo que ele quis ser perfomático nesse caso.
A litertura dele é cheio de violência, sexo e mistério, mas não trata nem de violência, nem de sexo, nem de mistério. Ou seja, é metáfora pura. Acho que um autor do porte de Gombrowicz não diz bobagem.
Esse livro deve ser provocativo. Nada mais. O título deveria ser Contra CERTOS Poetas, aí sim, ele seria justo.