*Andando por São Luís*
Por Steffano Silva Nunes
Amanheci o último domingo me impondo uma missão: ir até a fábrica de Cuscus Ideal lá no Anil e adquirir uma pequena quantidade das apreciadas iguarias preparadas nos sabores de milho e arroz, cobertas com coco ralado. De lá partiria pra casa da minha mãe e a surpreenderia com os tais dos Cuscuzes que iriam à mesa devidamente acompanhados de um café preto bem quentinnho. Antigamente os vendedores conseguiam atingir toda a cidade com suas bicicletas trazendo na garupa as caixas metálicas recheadas de Cuscuzes. Era possível encomendar junto a eles, que não falhavam. Nossa cidade cresceu, nos refugiamos em condomínios, chegou a pandemia e já não é tarefa fácil encontrar os vendedores desse produto, que em escala industrial, talvez só exista aqui neste ponto insular do planeta.
Para cumprir essa prazerosa missão atravessei praticamente toda a cidade e realizei uma volta completa. Cruzei a ponte São Francisco e chegando ao centro dei uma pequena rodada por lá antes de tomar o rumo do Anil. Poucos carros, poucas pessoas, mas muitas lembranças pra quem tinha esse local como fonte de quase tudo tempos atrás. Era lá que estudávamos, era onde nossos país trabalhavam. Era onde alguns dos nossos amigos moravam. Era onde nos divertíamos no cinema, nos fliperamas, nas festas da boate apocalipse, na cooperativa do reggae no reviver, nos bares Braseiro - na rua lateral do Banco do Brasil da Deodoro; e no Passarela - na rua do passeio (agora eu fui longe). Estou aqui sorrindo comigo mesmo.
Cheguei no Canto da Fabril e de lá percorri a maior parte do “caminho grande”. Iniciei pela avenida Getúlio Vargas, onde muitos imóveis parecem abandonados. Sempre fico em dúvida no cruzamento com a avenida dos Franceses, mas geralmente me decido por me manter no rumo da, agora chamada, avenida São Marçal que acompanha todo o bairro do João Paulo e volta a ser a avenida João Pessoa a partir do “Canto da Girafa”. No Outeiro da Cruz recebe a denominação de avenida Edson Brandão para, já próximo ao acesso do antigo clube Jaguarema, ser chamada de avenida Casemiro Júnior, onde na altura da igreja do Anil, está paralela a rua Cônego Tavares. Pronto, cheguei. Peguei os meus Cuscuzes e fui fazer a alegria da minha mãe e de toda a família no café da manhã de domingo.
Depois desse longo passeio, voltei para casa refletindo sobre a nossa cidade. Mesmo os temas de ordem nacional e estadual acabam desaguando nos municípios. Nesse ano teremos as eleições municipais e penso que devemos ir além da importante tarefa de eleger nossos representantes. Podemos buscar criar e aprimorar instrumentos de acompanhamento e controle sobre a gestão de nossa querida São Luís.
O enclausuramento social a que estamos submetidos atualmente nos impõe uma vida virtual que pode nos mostrar algo de útil nessa tarefa. A internet pode nos facilitar a participação em conselhos, associações de bairros, etc., permitindo debates mais amplos que possibilitem a participação pública em coisas boas que estão acontecendo, como a revitalização de nossas praças. Mas ao mesmo tempo busque soluções para situações que parecem inacreditáveis como as filas diárias de pessoas que ficam durante quase toda a manhã no sol e na chuva, em pé, na avenida Kenedy, buscando atendimento na secretaria municipal da fazenda. Pessoas que mesmo diante de uma crise global, em sua maioria, estão ali para contribuir com as finanças do município.
Podemos conversar mais sobre a nossa cidade, pois São Luís continua merecendo e precisando da nossa atenção.
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