Escritor e crítico espanhol, Antonio Maura acredita que Joaquim Maria
Machado de Assis (1839-1908), o grande gênio da literatura brasileira, não foi
devidamente valorizado pela crítica e mereceria ser reconhecido como um dos
melhores escritores do século XIX.
"Acho que Machado é um dos grandes
nomes do século XIX. Não acredito que se compare nem a [Charles] Dickens,
[Honoré de] Balzac, Eça de Queiroz ou ao nosso [Benito Pérez] Galdós. São
grandes escritores, mas estão abaixo nos quesitos riqueza, crítica e análise da
sociedade e versatilidade. Não chegam aos pés", diz
Sócio correspondente da
Academia Brasileira de Letras, Maura está no Cairo para a conferência "El
autor y sus máscaras: Una aproximación a Cervantes y Machado de Assis"
("O autor e suas máscaras: Uma aproximação de Cervantes e Machado de
Assis)", no Instituto Cervantes local.
Ele afirma que, fora de suas fronteiras, o escritor brasileiro
"é um grande desconhecido". Em sua opinião, até mesmo no Brasil os
estudos sobre Machado de Assis "não refletiram bem" sua faceta de
grande crítico do sistema de sua época e da escravidão.
Para Maura, o cronista e poeta teve que recorrer à ironia para
falar "na surdina" de um tema que não podia ser encarado abertamente
por ele ser neto de escravos.
Um exemplo disso é "Memórias póstumas de Brás Cubas"
(1881). De acordo com Maura, a verdadeira intenção do autor é "colocar o
dedo na ferida" da sociedade e para isso se serve de uma sutil alegoria
para denunciar que o morto é o próprio Brasil.
A escolha do nome do protagonista, que coincide com o início do
nome do país, "não é à toa" para alguém tão "inteligente e
cuidadoso com a linguagem" quanto era Machado de Assis. Para Maura,
"a crítica brasileira foge" desta interpretação porque "não é
fácil aceitar que seu país é um país morto ou esteve morto".
O crítico espanhol defende que as obras
que o romancista e dramaturgo escreveu depois de "Memórias póstumas",
como "Dom Casmurro" ou "Quincas Borba", são dos livros
"mais importantes de sua geração, não apenas do Brasil, mas de todo o
mundo".
Segundo ele, alguns autores de língua
espanhola, como Jorge Edwards, Julián Ríos e Carlos Fuentes, destacaram a
importância de Machado de Assis, mas o mestre brasileiro ainda carece do
merecido reconhecimento mundial.
Do G1.
Enviado por Eri Santos Castro.
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