Amigas e amigos,
Como
continuação da homenagem à memória de Jackson Kepler Lago, divulguei
ontem a sua última entrevista dada a um jornal, o Tribuna do Nordeste,
em 10/2010.
Hoje divulgo, na íntegra, o seu discurso de posse como governador do Maranhão.
É
nosso intuito trabalhar a sua memória, assim como relembrar os fatos
políticos que aconteceram no nosso estado, especialmente aqueles que
tentaram dar um rumo diferente em nossos destinos.
No último 04 de abril, completamos dois anos de sua ausência física
e, no próximo dia 16, completaremos quatro anos de sua cassação pelo
TSE, num julgamento que ficou conhecido como um dos maiores erros do
judiciário brasileiro.
Que seja de bom proveito!
Abraço,
Igor Lago.
DISCURSO DE POSSE DO GOVERNADOR JACKSON LAGO – 01/01/2007, PRAÇA MARIA ARAGÃO, SÃO LUIS, MARANHÃO.
Esta
solenidade é o ato inaugural de um outro Maranhão. Um Maranhão que tem
compromisso com seus filhos mais necessitados, com nossos irmãos
esquecidos, com as crianças sem infância, os adultos sem esperança, as
famílias sem porvir.
Conclamo todos os maranhenses para a grande tarefa de preparar o
Maranhão para o seu destino de prosperidade e oportunidades. O governo
que se inicia hoje tem um dupla e sagrada missão: restabelecer a
autoridade do poder popular e montar as bases para a retomada da
produção e do desenvolvimento.
Durante muitos anos, coube ao povo maranhense participar da política
como quem assiste a um espetáculo. E que triste espetáculo! Agora é hora
do povo do Maranhão tornar-se o sujeito ativo da política. É hora de
devolver o Maranhão para o povo maranhense.
Você, homem e mulher maranhenses, serão partes deste governo. Vocês
terão voz e vez no governo. Vocês terão voz e vez no governo que se
inicia. Não há família melhor que a sua. Não há ninguém com mais
direitos que você. Sua participação é tão valiosa quanto a de qualquer
cidadão. No governo que se inicia hoje, sua presença é importante nos
conselhos municipais, nas associações, nas escolas, nos fóruns de
debates. A reconstrução do Maranhão é tarefa de todos os nós.
Este será também um governo dos movimentos sociais, das organizações da
sociedade, dos sindicatos, das associações, das universidades. O governo
de diálogo e da inserção social. Um governo de igualdade racial, de
respeito às minorias, de reconhecimento às mulheres.
Nós políticos, não somos donos dos votos que nos foram confiados. Somos
arrendatários da esperança do povo maranhense. Assumo o compromisso de
fazer de cada ato, de cada gesto, de cada ação do meu governo um resgate
dessa esperança.
Agradeço ao povo do Maranhão a graça que me concedeu de me confiar a sua
mais alta investidura pública. Não por mérito meu, mas por força das
circunstâncias que assim me permitiram a honra de ser portador do nobre
sentimento de libertação.
Graças à determinação de seu povo, o Maranhão manda hoje, em alto e bom
som, um recado para todo o Brasil. O Maranhão não tem dono! Somos um
estado livre! O dono do Maranhão é o povo do Maranhão.
Ao tornar-se o
provedor do seu destino, o povo maranhense sepulta a velha política de
favores e favorecimentos. As políticas públicas serão dirigidas para
quem delas precisa. Os investimentos serão aplicados para o benefício da
população mais necessitada. Meu governo não será contra pessoas ou
grupos. Será contra métodos e práticas que tornaram o Maranhão o estado
mais atrasado do país.
O Maranhão não é um estado qualquer. É um estado do qual podemos e
devemos nos orgulhar. Somos a fronteira ecológica entre o semi-árido do
Nordeste e a exuberância do ecossistema amazônico. Temos as virtudes e
as potencialidades de ambos. Somos o berço de magníficas águas ofertados
em rios, riachos, lagos e igarapés que irrigam um chão fértil e
generoso. Temos o segundo maior litoral do país e abrigamos o maior
berçário de vida marítima nos santuários dos manguezais. Seja na
imensidão dos lençóis, ao norte, nas escarpas ao sul, nas verdejantes
planícies da baixada, o Maranhão é pródigo em beleza e riqueza.
No entanto, somos também um estado elitista e autoritário, que tem sido
historicamente instrumento dos senhores de terras, repartidas entre
poucos e privilegiados. Criamos um Maranhão dividido entre os que
possuem tudo e os que nada possuem. Entre a fartura de poucos e a
necessidade de muitos. Essa gigantesca dívida social tem que começar a
ser paga. É para esse Maranhão dos muitos que não tem nada que este
governo hoje se forma.
Somos os herdeiros de seculares esperanças frustradas, de bravos
maranhenses, os balaios, que há quase duzentos anos lutaram pela
liberdade, pela propriedade do solo e contra o arbítrio. Eles foram
derrotados pelo poder imperial, mas a sua luta ainda é a nossa luta. A
bandeira da Balaiada, a insurreição do povo maranhense, ainda nos
inspira a derrotar o atraso, a combater a intolerância, a acreditar no
nosso povo.
Não fui eleito sozinho. Trago comigo companheiros de jornada, legiões de
pessoas que compartilharam esse sonho de liberdade e a crença na
organização de um governo popular e democrático. Não citarei nomes, que
são tantos, mas o destino quis que esta solenidade fosse realizada aqui
nesta praça que simboliza e testemunha uma das mais ilustres combatentes
pela liberdade. Poderia ser Reis perdigão, William Moreira Lima, Neiva
Moreira. Maria Aragão, este também é o teu governo. Lembrando o poeta,
quem entrar neste governo, pise mansamente, pois estará caminhando sobre
os sonhos de Maria Aragão.
Quis também uma feliz circunstância política que o meu governo
coincidisse com o segundo mandato do presidente Lula. Com ele palmilhei,
há alguns anos, o chão do Maranhão. Conversamos com quebradeiras de
coco, visitamos pescadores, trocamos ideias com lavradores, homens e
mulheres do interior do Maranhão. Guardo dessa jornada a lembrança de
uma amizade regada por um sentimento que nunca os afastou. O sentimento
de justiça social. Tenho certeza de que terei no presidente, ou melhor
dizendo, no companheiro Lula, o parceiro que o Maranhão precisa para
fazer os investimentos necessários ao seu desenvolvimento.
O povo do Maranhão deu ao nosso presidente uma votação consagradora que merecerá a sua gratidão.
Durante
a campanha eleitoral, firmei compromissos com o povo maranhense. Tudo
farei para cumprir cada compromisso de campanha. Nem todos serão
possíveis já no primeiro ano. Alguns levarão tempo para se tornar
realidade. A partir de hoje, estarei lutando dia e noite para cumprir
com a palavra que empenhei em praça pública, nas dezenas de municípios
que visitei.
Todos lembram que meu dístico na campanha foi trabalho, saúde e
educação, para libertar o Maranhão. Não era apenas uma frase, um slogan.
Era e continuará sendo uma declaração de princípio. Um compromisso que
reitero aqui, nesta praça, com o povo da minha terra. É pelo trabalho,
com saúde e com educação que o Maranhão construirá seu futuro de
liberdade e oportunidades.
Este governo que hoje se inicia tem também um firme compromisso
municipalista, que reafirmo perante as lideranças políticas da minha
terra. Nasci e me criei no interior, e minha experiência de prefeito de
nossa capital confirmou em mim a convicção de que não há desenvolvimento
consistente sem a participação integrada e parceira dos municípios.
Recebe das mãos do governador José Reinaldo Tavares esta faixa e as
responsabilidades de conduzir o nosso estado. No passado, fomos
adversários. Mas o governador José Reinaldo construiu, com alto
sacrifício pessoal e político, o caminho para a libertação do Maranhão.
Não cabe a mim agradecê-lo. A sua recompensa, governador, é poder hoje
mesmo, sair por entre esta multidão na praça com a cabeça erguida do
dever cumprido. O seu papel nas atribulações do Maranhão contemporâneo
não diminuirá aos olhos da história.
Para aqueles que comigo integrarão o governo, seja a professora na
escola, o médico no hospital, o servidor em qualquer órgão público,
todos vocês são também fiadores da liberdade e da esperança. O povo é o
nosso patrão. É para o povo, especialmente os mais pobres, que
devotaremos nosso trabalho de todos os dias.
Rogo a Deus que me dê sua graça para enfrentar as dificuldades, para
perdoar as ofensas, para renovar o ânimo, para ser justo, para
reconhecer o erro, para perseverar no caminho certo. Disse o poeta que
"tudo vale a pena se a alma não é pequena". È com a alma engrandecida
pela confiança de vocês que eu assumo hoje o governo do estado do
Maranhão.
Muito obrigado.
Pauta: Igor Lago.
Enviado por Eri Santos Castro.
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