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26 de jan. de 2013

Sarney é o ser mais fabuloso que Sarneu já viu



Na bica de deixar o comando do Senado, José Sarney falou ao portal de notícias da Casa. Prenhe de desprendimento, disse que jamais ambicionou a poltrona que ocupa pela quarta vez: “Nunca gostei de participar das mesas de direção. Mas, em 1994, me rendi aos apelos para assumir a Presidência do Senado.”

Fausto de humildade, crê ter arrancado o Senado do atraso: “Depois de assumir a Presidência, acho que entramos na era da modernidade do Senado. Parecia que o Senado ainda estava no século 19.”

Aos 82, Sarney considera-se uma espécie de guerrilheiro da modernidade: “Tudo isso mostra a revolução que ocorreu no Senado [...]. A modernização e a atualização têm sido a minha marca por onde tenho passado na administração publica.”

Ex-tudo –deputado estadual, deputado federal, govermador e presidente da República— o hoje senador Sarney chega ao “fim da vida” com uma ponta de “frustração”.

Empresário rico e político poderoso, melhorou sua própria existência. Porém, ainda não ajeitou a vida do planeta: “Quando a gente entra na política, é pelo desejo de melhorar a sorte de seu município, de seu Estado, de seu país, e até de melhorar a sorte da humanidade. […] E sempre fica uma frustração por ainda não ter conseguido todas essas coisas.”

Magnânimo, Sarney perdoa quem o acusa de vilanias. Faz isso a pedido do Padre Eterno: “A política é cruel […]. O embate político não tem limites. A primeira coisa que muitos fazem é tentar desqualificar o adversário. […] Eu sou cristão e Deus me deu essa graça. Deus já fez tanto por mim […]. E ele me pede uma coisa apenas: ‘…Perdoai os vossos inimigos’. Por que eu vou negar isso a Ele? Então eu perdoo e fico tranquilo, numa boa.”

Traidor dos ex-amigos da ditadura e amigo dos ex-detratores que arriscaram o pescoço pela democracia, Sarney vê “trabalho” onde muitos só enxergam oportunismo: “Depois de ser presidente, tive a felicidade de ver todas as classes sociais chegando à Presidência. A República começou com os barões do café, passou pelos militares, pelos bacharéis e tivemos um operário como presidente. Hoje, temos uma mulher na Presidência. Há país mais democrático que o Brasil? […] Isso foi fruto de um trabalho que passou pelas minhas mãos.”

Visionário, Sarney considera-se precursor de tudo. A prioridade social? Coisa dele: “Quando fui presidente [1985-1990], houve uma mudança de foco. A prioridade era apenas econômica e eu coloquei a causa social na pauta da política brasileira. Todos esses programas que hoje foram ampliados começaram naquele tempo.” A estabilidade econômica? Obra de Sarney: “Com o Plano Cruzado, tive a coragem de colocar minha cabeça a prêmio, com o congelamento de preços. Procuramos outro caminho que levou ao Plano Cruzado, ao Plano Verão, ao Plano Collor e até ao Plano Real.”

Calma, não se descabele. Você não meu mal. É isso mesmo. Sarney considera-se um pai insuspeitado do plano costurado sob Itamar Franco e implementado sob FHC: “O Plano Real, já naquele tempo, esteve em nossas mãos, mas não havia mais tempo para implementá-lo, pois estava deixando a Presidência da República. Essas conquistas me fazem muito orgulhoso de minha vida pública. Na minha vida, a orientação sempre foi procurar ajudar, construir, unir e buscar a paz.”

Como se vê, José Sarney é o político mais extraordinário que José Sarney conhece. O mandato dele termina em 2014. Não cogita disputar a reeleição. Deixa o palco porque quer. Evocando um amigo, disse que apenas duas coisas levam um político a abandonar a carreira: ou larga o povo ou o povo o larga. “Graças a Deus, nada disso aconteceu comigo”, rejubila-se esse Sarney que o Sarney nunca viu outro igual.

Sugestão de pauta: Igor Matos Lago.
Por Josias de Souza.
Enviado por Eri Santos Castro.  
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