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4 de nov. de 2009

' Tristes Trópicos ': uma das principais elaborações do século XX

Em 1954, a editora francesa Plon encomendou a um jovem especialista em populacões esquimós e lapônias, Jean Malaurie, que criasse uma coleção etnográfica intitulada "Terra Humana".

Malaurie, então, pediu a Claude Lévi-Strauss um relato de suas viagens. Em quatro meses, o antropólogo terminou seu manuscrito, baseado na viagem que fizera ao Brasil nos anos 30. Na ocasião, ele havia iniciado um projeto de romance, do qual aproveitou o título: "Tristes trópicos".

"Eu tinha uma bolsa cheia que tinha vontade de esvaziar", contou. E o que ele colocou disto na obra não foi apenas seu conhecimento, mas também sua alma: esta é a diferença entre um relato erudito, mesmo de alto nível, e uma obra de arte.

Em seu livro, o austero e discreto antropólogo está evidentemente dividido entre um desejo de liberdade e o trabalho científico. Finalmente, porém, decide permitir-se a liberdade para escrever uma obra audaciosa, quase antinatural, já que não hesita em empregar a primeira pessoa do singular ao defender a ideia de que "o 'eu' é odioso".

Após um aparentemente paradixal "ódio às viagens e aos exploradores", 500 páginas extraordinárias trazem o relato das aventuras e das descobertas que fez, acompanhadas de lúcidas reflexões.

Moralista, Lévi-Strauss analisa nesta "autobiografia intelectual" as relações entre o velho e o novo mundo, o lugar do homem na natureza, o sentido da civilização e do progresso.

Era lúdico e claro como o sol
O sucesso foi imediato, e as críticas, entusiasmadas. Às vésperas de anunciar os vencedores de seu prestigiado prêmio, a academia Goncourt lamentou não poder concedê-lo ao livro de Lévi-Strauss, já que não era um romance. Apenas os cientistas receberam a obra com reservas, impacientes por ver seu colega transitar entre o terreno científico e o mundo do romance.

"Os etnólogos me acusam de ter feito um trabalho de fã, e o público afirma ser um livro erudito. Tudo isto é indiferente para mim", disse na época o autor.

"Tristes trópicos" foi traduzido para diversas línguas e reeditado outras tantas vezes vezes. Claude Lévi-Strauss o considerava um livro escrito "rápido demais e sem reflexão".

"Insólitas, desconcertantes, desvairadas, saltando as épocas, os anos, as estações, palpitantes, as fulgurações de 'Tristes trópicos' são do tipo que traçam caminhos na noite. E isso ainda perdura", escreveu a ensaísta Catherine Clément, amiga e especialista da obra de Lévi-Strauss.

Pesquisa em sites especializados- AFP, Civilização, Prensa Latina
Enviado por Eri Santos Castro

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