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6 de out. de 2007

Piauí, uma revista sem gravata



Na primeira semana do mês de outubro do ano passado chegava às bancas uma nova publicação. Editada mensalmente, a piauí pretendia preencher um nicho do mercado de revistas, ocupado principalmente por notícias factuais ou temas segmentados, como a cultura. A revista pretendia ser um espaço para reportagens, perfis, ensaios, crônicas, diários e texto ficcionais. A condição para uma matéria ser publicado era simples: uma boa história, bem narrada.
Um ano depois do lançamento da revista, o Observatório da Imprensa na TV, exibido na terça-feira (2/10), trouxe uma entrevista de Alberto Dines com o editor da piauí, o documentarista João Moreira Salles, para um balanço deste período. Idealizador da publicação, Salles é formado em Economia e pretende dedicar-se mais dois anos exclusivamente à revista, até que ela possa "caminhar com as próprias pernas".
Antes do final de cada bloco do programa foi exibida uma entrevista gravada. Na primeira delas, o publicitário Washington Olivetto afirmou acreditar que o resultado comercial da revista no primeiro ano foi melhor do que o previsto inicialmente. Mario Sergio Conti, diretor de redação da piauí, explicou que as matérias publicadas na revista surgem a partir da iniciativa de cada colaborador. Para Conti, quando a pessoa sugere a matéria, ela fica mais interessante. O jornalista Luis Nassif, que está escrevendo uma biografia do banqueiro Walther Moreira Salles, pai de Walter Salles Jr, João Moreira Salles e Pedro Moreira Salles, falou sobre os valores da "família mineira" passados pelo patriarca e contou que a babá que ajudou a criá-los os colocou "em contato com o povo, com o mundo".
Dines abriu o programa com uma pergunta sobre o nome da revista. Salles contou que o título é "insensato no bom sentido", não tem nenhum significado. Durante o último ano do processo de criação, o grupo que elaborava a revista cogitou vários nomes, mas não conseguiu entrar em acordo. "É um nome afetivo, cheio de vogais. Eu acho a sonoridade bonita, ele é bonito também quando é escrito. É um nome pelo qual você pode se afeiçoar", explicou.
O título não é uma referência ao estado do Piauí, na região nordeste do país, mas Salles confirmou que a revista tem a proposta de tratar de temas fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília. O editor informou que a revista foi bem recebida em Teresina, capital piauiense, e disse que esta é a única revista que cobre o Piauí. "Algumas pessoas publicaram que pudesse ser uma brincadeira, uma galhofa. De jeito nenhum, a revista é séria", disse.
Sem a pressa do deadline
O estilo sereno da revista é reflexo da personalidade de João Moreira Salles.O editor ressaltou que o gênero "estridente" tem o seu espaço e que é importante existir uma imprensa que "grite". Apesar de não ter a premência da notícia urgente, a revista não é apolítica, ela toma posições. O diferencial da revista, na visão do editor, é que ela pode ser mais lenta dos que as outras, pois a equipe tem mais tempo para escrever e apurar.
Salles acredita que o sucesso da publicação é uma resposta a quem duvidou do projeto por acreditar que toda leitura deveria ser, necessariamente, utilitária. O editor contou que se sentia órfão de uma revista com esse perfil, e surpreendeu-se ao encontrar um número muito maior de pessoas que também gostariam de ler uma revista como a piauí. Antes do lançamento, Salles consultou informalmente alguns profissionais do mercado editorial. As previsões mais pessimistas avaliaram em 5 mil o número de possíveis leitores de uma revista com o perfil da piauí. Outros acreditaram que esse número poderia chegar a 12 mil. Hoje, a piauí circula entre 35 e 37 mil exemplares, dos quais 16 mil para assinantes.
A revista não tem colunista nem é dividida por editorias. Os assuntos não precisam estar presentes em todas as edições, o que torna a revista maleável. Dines então perguntou sobre a organização da revista. Salles disse que o fato de a redação da piauí ser pequena – são apenas três salas interligadas – facilita a conversa e o "trânsito de idéias". Apesar de não haver uma hierarquia rígida, a edição final da revista fica a cargo de Mario Sergio Conti: Inspirações e modelos
Salles contou que os colaboradores da revista nunca fizeram uma reunião de pauta. Cada um sugere a matéria diretamente a Conti, e este avalia. Os jornalistas Dorrit Harazim e Marcos Sá Correa também editam o material que será publicado. O formato da revista sofreu influência de publicações que o editor leu ao longo da vida, como a norte-americana The New Yorker, mas que não copia nenhum modelo. Salles disse que formato é original e que não existe uma revista parecida com a piauí dentro ou fora do país.
Para Salles, os textos da publicação são muito diferentes entre si e não tentam imitar o new journalism. A tensão narrativa seria o fator em comum entre os textos, que não têm lead e sublead. Para o editor, a reportagem é boa quando o leitor chega ao final de uma história sobre um assunto que não lhe interessava ao começar a ler.
No Maranhão aguarde a revista mensal "O AMANHÃ".

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